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Polícia (cada vez mais) científica faz Ceará economizar R$ 120 milhões

‘As grandes polícias do mundo têm cientistas de dados em suas equipes. Queremos criar essa carreira por aqui’

Tempos antes de o programa Cientista Chefe ganhar esse nome, a ideia embrionária já era testada na mais estratégica das secretarias do governo cearense, a da Segurança Pública. Há três anos, em 2016, o estado viveu uma queda bruta na taxa de homicídios. No ano seguinte, porém, as mortes voltaram a disparar, crescendo 47% em relação ao ano anterior. A disputa entre facções criminosas e a violência nos presídios espraiaram-se em insegurança nas ruas da capital, Fortaleza – naquele ano, a cidade foi palco da mais sangrenta chacina da história do Ceará, que deixou 14 mortos, e em 2019 houve ataques a prédios públicos, pontes e torres de comunicação. Sob esse cenário nada alentador, a secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado passou a pensar em como usar tecnologia para fazer com que o crime deixasse de compensar.

Há dois anos, passou a atuar nesta questão uma equipe coordenada pelo professor José Macedo, do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará. Estreante na área de segurança pública, mas com larga experiência em Tecnologia da Informação dentro e fora da universidade, o pesquisador ganhou a missão de organizar essa barafunda de dados e apresentá-la aos gestores e policiais numa plataforma fácil e intuitiva. Com a ajuda de cem pesquisadores e o envolvimento de outras duas dezenas de colaboradores, nasceu então um sistema de big data chamado Odin, que armazena e cruza dados obtidos por mais de 50 sistemas dos órgãos de segurança e de entidades parceiras. Todas as informações podem ser vistas em tempo real dentro de um painel que simplifica os processos de investigação e de tomadas de decisão, o Cerebrum. “O sistema cruza mais de 3 mil informações”, diz Macedo, “mas foi desenvolvido para funcionar mesmo em celulares mais simples.”

Nessa esteira surgiu também um sistema que permite a checagem em tempo real de placas de veículos que passam pelos radares instalados. O Spia tem 3,3 mil câmeras integradas. As imagens são repassadas a um banco de dados que indica a possibilidade de crimes ao operador policial mais próximo.

Os dados ajudaram, por exemplo, a colocar bases de policiais a pé nas regiões onde ocorrem mais homicídios. Essas informações foram cruciais para diminuir o tempo de captura de um veículo. “Hoje conseguimos reagir em seis ou sete minutos”, diz o policial rodoviário Aloísio Lira, chefe da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp). A resposta ágil dificulta também que o veículo seja utilizado para cometer outros crimes, quebrando a cadeia de infrações. Com isso, o roubo de carros caiu 48% em relação ao primeiro semestre do ano passado.

A secretaria estima que o projeto poupou aos seus cofres algo em torno de 120 milhões de reais. A meta agora é concluir até 2020 o processo de integração da plataforma. O acesso a esses dados, calcula Lira, terá um grande impacto nas iniciativas futuras de combate ao crime no estado. “As grandes polícias do mundo têm cientistas de dados em suas equipes. Queremos criar essa carreira por aqui.”

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Big Data Inteligência Artificial

Big Data e Inteligência Artificial em ação no combate ao crime

Um smartphone comum, com conexão à internet. Dentro dele, um aplicativo especial com várias opções de busca de dados: RGCNH, consulta do veículo (situação dele até pelo chassi), folha criminal. Qualquer policial com acesso a este equipamento poderá, durante abordagens, consultá-lo para saber a situação do cidadão e do veículo utilizado. Isso já existe e é um dos 9 produtos de tecnologia utilizados pela Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) no combate ao crime.

A ferramenta representa um avanço na luta contra a criminalidade e pode significar também que culpados serão mais facilmente detidos, e inocentes não pagarão um amargo preço. Mas, além da busca feita por meio do celular, acoplado a um equipamento de biometria comum, o agente da lei pode mais. Em até 2 segundos, ele pode achar documentos como RG e CNH e a foto do indivíduo abordado. O equipamento já está funcionando entre 10 e 15 viaturas do Estado, além da Delegacia da Criança e do Adolescente.

Com o smartphone e o leitor biométrico, o agente da lei saberá se o abordado é ou não menor de idade, por exemplo. E isso vem ajudando a reduzir um custo operacional para a Polícia. Anteriormente, em uma ação, a verificação se uma pessoa era ou não adolescente poderia levar até 5 horas. Agora, é feito em dois segundos. Esta verificação de dados precisa ter a partir de 70 scores, que é um padrão internacional, para ser considerado confiável. Qualquer pessoa que passar por essa abordagem terá suas informações inseridas no banco de dados do Governo do Ceará, o Odin.

Parceria

Em parceria com o Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), foram desenvolvidos 9 projetos. Segundo o professor do curso José Antônio Macêdo, são eles: a plataforma Big Data para integração de mais de 60 fontes de dados relacionados à Segurança Pública; o motor de buscas, denominado Cerebrum, o qual permite através do uso de linguagem natural a busca de informações de forma integrada; o aplicativo móvel para facilitar o trabalho do policial, o qual oferece serviços de busca a base civil, criminal e veicular; o sistema para inteligência da Polícia; o sistema automatizado de busca de impressão digital; o detector de marca e modelo de veículos a partir de imagens coletadas de sensores de passagem de veículos; o sistema de redes deletivas para suportar a análise de relacionamentos entre entidades relacionadas com crimes; o analisador de crimes, denominado CrimeWatcher, através do uso de ferramentas estatísticas e mapas de calor; e o extrator de dados dos textos dos boletins de ocorrência utilizando técnicas de inteligência artificial.

Monitoramento

Além de tudo isso, a Secretaria conta com o Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia), trazido da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Nele, junem-se o sistema de videomonitoramento da Polícia cearense, Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz), Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Departamento de Trânsito (Detran) e Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) para formar um cinturão com 3.304 câmeras espalhadas por todo o Estado. As imagens captadas são transformadas em mensagem de texto dando toda a situação do veículo fotografado/filmado para que os policiais possam agir da melhor maneira.

Assim, segundo o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, há garantia de maior precisão nas abordagens. Afinal, o policial já irá na certeza de que há algo realmente errado no veículo. “É a primeira experiência exitosa de integração de dados no Brasil em tempo real. Todos os envolvidos usam as informações da melhor forma possível. A Polícia terá para o maior controle da mobilidade do crime. Para evitar que o delinquente possa usar um carro roubado em crimes. Estamos passos à frente na luta contra o crime”.

O secretário garante, quando o cidadão faz a denúncia de roubo do carro por telefone, em minutos, os dados do veículo entrarão no sistema, e o Spia passará a monitorar em busca dele. Isso se reflete na redução dos veículos roubados no Estado.

No primeiro quadrimestre de 2019, foram 1.726 crimes. Este foi o número mais baixo registrado desde 2011, quando aconteceram, em igual período, 1.274 delitos contra veículos automotores. Se comparado ao ano passado, quando foram registrados 3.414 crimes, os quatro primeiros meses de 2019 registraram uma queda de 49%, isto é, 1.274 veículos a menos roubados.

Segundo a Secretaria, a ideia é fazer mais ações acertadas com o auxílio da tecnologia – deixando claro que a palavra final será sempre do policial na ponta do processo. E para evitar que o agente tenha uma experiência negativa com a solução, a SSPDS trabalha em conjunto com a UFC para aprimorar as soluções antes de entregá-las para a tropa. A ideia é aparar as arestas, ajustar para que os sistemas estejam em um nível de precisão ainda maior.

Segurança dos dados

De acordo com Aloísio Lira, superintendente de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), que veio da PRF para ajudar em estratégias voltadas ao combate à mobilidade do crime, as tecnologias têm impactado diretamente na melhoria dos índices criminais no Ceará. Segundo ele, a segurança dos dados dos cidadãos na base gigante, que está aumentando ainda mais com as inovações tecnológicas, está garantida.

“Trabalhamos na perspectiva de multifatores. Temos um tratamento, além do sistema, quase manual dos mais sensíveis. Tudo isso dentro de um trabalho de segurança da informação. Passamos por seis ou sete vetores de tratamento para o aspecto do trabalho da inteligência. Temos um trabalho muito forte de auditoria dos dados que é fundamental para termos uma base bem construída”, afirmou Lira.

Conforme o superintendente, é usado um método empresarial no contato com os pesquisadores da UFC. “Aqui usamos uma metodologia scrum, que são pequenas etapas, e damos sprints (reuniões focadas), onde eu e o secretário avaliamos os resultados. Então, vai para outro sprint e analisamos para saber se está de acordo com a estratégia. Daí, retornamos para eles (UFC). É um desenvolvimento em conjunto das soluções. Cada uma é desenvolvida para resolver um problema específico. E o todo, só os agentes da inteligência conseguem ver. Tudo isso para ter a proteção dos dados. Aqui dentro, há poucos cientistas que fazem a fusão dos dados para melhorar os algoritmos de forma contínua para prover na ponta, a melhor tomada de decisão”, informa Lira.

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