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Mobilidade do crime: ciência e tecnologia na área da segurança pública

* Por Aloísio Lira

A Segurança Pública está intrinsecamente ligada à cultura e ao cotidiano social. E o crime se vale de comportamentos e janelas de oportunidades para ser consumado. Diante disso, o crescimento desordenado das cidades, o aumento dos aglomerados subnormais e das áreas de patrulhamento impuseram novos desafios à administração pública. Tornou-se economicamente inviável manter um efetivo capaz de “saturar” todas as áreas críticas.

Hoje é economicamente inviável manter efetivos para monitorar todas as áreas; no Ceará, foram agregadas mais tecnologia e inteligência de cenários às atividades rotineiras.

Os modelos de policiamento unicamente estatísticos, os famosos “hotspots”, começaram a ruir quando a criminalidade, devido à popularização do uso do veículo automotor, passou a utilizar o vetor mobilidade e manobrabilidade em suas práticas delitivas, causando um reativismo difuso do policiamento.

A  identificação dessa mudança no comportamento delitivo e a necessidade de adequação do policiamento a esse novo padrão, integram o conceito de Mobilidade do Crime, serão apresentadas aqui de maneira resumida.

Para evidenciar o conceito e demonstrar a necessidade de se criar um novo modelo de policiamento, apresentamos abaixo o mapa isócrono (Figura 1) de uma conduta delitiva. A imagem demonstra que a execução do crime está mais associada à motivação do agressor e às condições de vulnerabilidade da vítima do que a “hotspots”.

Figura 1 apresenta dois pontos, que correspondem a sensores integrados ao SPIA (Sistema Policial Indicativo de Abordagem). O veículo monitorado foi utilizado no cometimento de um delito entre os pontos 1 e 2, levando aproximadamente 5 minutos para se deslocar entre as duas localidades.

Considerando a manobrabilidade que esses infratores teriam num intervalo de 5 minutos após passar pelo ponto 1, o delito poderia ter sido cometido em qualquer posição da área demarcada pela cor amarela no mapa. Dito de outro modo, partindo do ponto 1 e levando em consideração os 5 minutos utilizados para o cometimento do delito e a fuga, esses infratores poderiam atuar em uma área correspondente a 7,66 km².

(1) Mapa isócrono de uma conduta delitiva real ocorrida em 2018 em Aracati/CE. Fonte: SUPESP-CE

É impossível, com tamanha área de manobrabilidade, imaginar que uma viatura posicionada em determinado ponto da cidade seria capaz de prevenir o cometimento de um crime pretendido por um infrator motivado, uma vez que este aguardaria o momento oportuno, em que houvesse a vulnerabilidade da vítima e a ausência de policiamento para o cometimento da infração. Não estamos, com isso, querendo dizer que a presença policial não previne o cometimento de infrações, mas demonstrar que essa prevenção é bastante limitada.

Para fazer frente a esse desafio, o Estado do Ceará começou a repensar sua estratégia de Segurança Pública e a agregar mais tecnologia e inteligência de cenários às atividades rotineiras, cujo primeiro projeto foi a Política de Combate à Mobilidade do Crime.

O combate à Mobilidade do Crime, resultado da integração entre a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará e a Polícia Rodoviária Federal do Ceará, apoia-se em 3 pilares:

  • O Sistema Policial de Indicativo de Abordagem (SPIA), uma inteligência artificial que integra diversos sensores espalhados pela cidade e tem a capacidade de localizar veículos envolvidos em delitos, em tempo real;
  • A montagem de cercos inteligentes pelos operadores da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS) que, ao receberem a localização de veículos suspeitos pelo SPIA, orientam as viaturas para o trabalho de cerco e captura através do sistema de videomonitoramento;
  • E o aumento do efetivo policial para motopoliciamento, o que permite uma maior mobilidade da Polícia Militar nas ocorrências, culminando com a redução no tempo de resposta às ocorrências.

Dessa simbiose entre homem e tecnologia, que possui similaridades com a indústria 4.0, o Estado do Ceará vem colhendo os frutos de 28 meses de redução nos roubos de veículos e roubos de maneira geral, como pode ser verificado nos Gráficos 1 e 2. A redução dos roubos de maneira geral se deu principalmente porque, como exemplificamos acima, o veículo serve como meio logístico para o cometimento da maioria dos delitos.

Fica evidente, portanto, que, ao “quebrar” a “mobilidade do criminoso”, o seu raio de atuação se torna cada vez mais limitado, mais próximo do local onde reside ou se homizia, facilitando o planejamento e a concentração do policiamento em locais estratégicos.

Gráfico 1 – Evolução do CVP no Ceará entre 2017 e 2019 após o início da Política de Combate a Mobilidade do Crime. Fonte: GEESP/SUPESP-CE
Gráfico 2 – Evolução dos crimes de roubo de veículos no Ceará entre 2017 e 2019 após o início da Política de Combate a Mobilidade do Crime. Fonte: GEESP/SUPESP-CE

Em linhas gerais buscamos mostrar, a partir das informações apresentadas, como o uso da ciência policial e da tecnologia podem fazer uma grande diferença no planejamento de uma Estratégia de Segurança Pública moderna. O impacto começa a surgir com força. Em um exercício preliminar, utilizando parâmetros de custos da violência da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), estimamos uma redução em cerca de 1,3 bi de gastos diretos devido a redução dos roubos de veículos, custos dos seguros e homicídios.

* Aloísio Lira é Superintendente de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública do Ceará, Agente Especial de Polícia Rodoviária Federal e vice-presidente do Conselho Estadual de Segurança Pública do Ceará

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Governo do Ceará discute estratégias para melhorar a eficiência do serviço público

Secretários e assessores técnicos do Governo do Estado do Ceará assistiram, nesta quinta-feira (28), a uma palestra sobre eficiência no serviço público. Ministrada por André Tamura, fundador e diretor executivo da WeGov, o encontro tratou também sobre inovação no setor público, principal área de atuação da empresa. Até o próximo sábado (30), o grupo de trabalho fará uma imersão no tema para montar um plano de ações para diversas áreas do Estado.

“Inicialmente, vamos falar do que representa a inovação no setor público não só para o trabalho dos servidores, mas na entrega de serviços para a população. Vamos apontar tendências, tratar sobre conceitos e montar algumas estratégias”, disse Tamura.

Transformação digital do Ceará

O evento ocorre como parte do plano de transformação digital do Ceará. Conforme José Macêdo, cientista chefe de dados do projeto, a ideia é criar um grande banco de dados no Estado, integrar informações disponíveis entre as secretarias, aperfeiçoar digitalmente os serviços ofertados à população e capacitar os operadores desses sistemas. “Queremos capilarizar a inovação em todo o Governo e estamos trilhando esse caminho”, disse.

“Trouxemos a WeGov, empresa focada em laboratórios de inovação para serviços públicos, para fazer algumas dinâmicas com secretários e levantar questões sobre o que é inovação no setor público. Isso dentro do contexto de sermos agentes catalisadores dos serviços prestados à população”, completou Macêdo.

Inovação no serviço público

Em sua fala ao público, André Tamura ressaltou a necessidade de que os governos invistam em inovação e tecnologia para atender a população. “É um fato, a disponibilidade de tecnologia está muito alta e essa diferença de tempo entre as organizações privadas e públicas tem diminuído. Essa mudança, não só de tecnologia, mas de comportamento dos servidores, é urgente e necessária para melhorar a vida das pessoas”, apontou.

O palestrante também apresentou algumas experiências internacionais e destacou a tendência de mudança na percepção sobre o serviço público. “Ao longo dos últimos dez anos, têm surgido histórias de governos supereficientes entregando bom serviço à população e aos poucos essas histórias vão tomar conta do imaginário”, concluiu.

Para o secretário chefe da Casa Civil, Élcio Batista, a imersão no tema, até sábado, será importante para o planejamento dos próximos 37 meses de gestão. “Estamos aqui nessa jornada de transformação digital. Todos nós aqui somos importantes para iniciar esse processo de mudança dentro do setor público, no caso, no nosso Governo do Ceará”, afirmou, acrescentando que os servidores sentirão orgulho de contribuir para transformar o Governo do Ceará no mais inovador do país, desafio posto pelo governador Camilo Santana.

“Será uma vitória maravilhosa e que dará orgulho para os servidores públicos quando os cidadãos reconhecerem o trabalho do serviço público. Orgulho em fazer parte do processo em que os cidadãos começam a mudar a percepção sobre o serviço público, que ele não é mais burocrático, não é mais decidido no birô e que os servidores públicos estão entregando com muito mais velocidade, agilidade e com muito mais qualidade, apoiados pela tecnologia”, destacou.

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